Vítor Lopes: "A Liberdade de Imprensa existe e recomenda-se" | Dia Mundial da Liberdade de Imprensa

O acesso à informação nunca foi tão fácil como agora. Os nossos telemóveis recebem informação a toda a hora. Os push são constantes, e a imprensa tradicional parece estar a perder gás. Há menos quiosques, menos jornais a circularem, menos pessoas a ver notícias na televisão e os rádios muitas das vezes só são ligados quando estamos no trânsito. Está na moda falar em sensações mesmo que a realidade seja diferente. Há a sensação muitas vezes passada que a imprensa não é livre, mas é. Pelo menos nos países mais desenvolvidos. Não é à toa que verificamos que uma imprensa livre também se traduz numa sociedade mais desenvolvida.

Ter Liberdade de Imprensa é ter jornalistas com Liberdade para perguntar, Liberdade para escrutinar, Liberdade para ter espírito crítico, Liberdade para dizer a verdade.

Para mim é difícil imaginar um país onde essa liberdade não existe. Tenho sorte. Nasci na década de 90, habituei-me a olhar para um jornalista como o dono da verdade, aquele que não mente, que só fala de factos. As redes sociais mudaram o paradigma, as fake news, o imediatismo de dar a notícia primeiro fizeram com que se perdesse algum rigor.  A somar às renovações das redações onde os mais experientes deram lugar a jovens com menos experiência, numa transição pouco cuidada, os erros no jornalismo também apareceram.

Como tal, a comunicação para mim sempre foi um fascínio e após uma visita de estudo à Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, para mim escolher o curso de Ciências de Comunicação acabou por ser natural. Ao longo do curso ganhei ainda mais o gosto pela comunicação, e o "bichinho" do jornalismo também apareceu de forma natural. Num mundo em que temos cada vez mais de nos questionar, ser jornalista é poder mostrar os dois lados da história, ser jornalista é muitas vezes ser os olhos das pessoas estar onde quem nos vê, ouve ou lê, não está. O jornalismo é uma profissão nobre, que eu respeitava muito antes de entrar neste meio, e que respeito ainda mais agora que tenho o privilégio de exercer a profissão.

Os desafios são imensos, desde logo os financiamentos das redações. Fazer jornalismo livre custa dinheiro. Estamos habituados a ver notícias de forma grátis, através da internet, da televisão ou da rádio. Mas as empresas de comunicação precisam de dinheiro para se financiarem, e como o tempo da abundância já passou hoje em dia vemos um jornalismo onde há o uso e abuso da mão de obra barata. E como tudo é uma bola de neve, no final, perde-se o rigor jornalístico.

Na Católica tive a sorte de ter pela frente professores que nos incutiram muito o espírito crítico e associado à teoria, ter ensinamentos de jornalistas que todos os dias estavam nas redações, ajudou-me ainda mais a perceber a importância de tratamos bem quem nos traz a verdade e os factos do país e do mundo, todos os dias.

Por isso, a eles agradeço.

Agradeço também a quem todos os dias procura informar-se. A nossa sociedade só vai evoluir se as nossas opiniões forem sustentadas e isso só se ganha com informação.

Uma sociedade rica é uma sociedade que "bebe" de várias opiniões e fações, mas uma opinião só é sustentava se for informada.  E uma opinião só é devidamente informada se todos os dados estiverem em cima da mesa. Todas as informações e todos os factos têm contexto. Por isso é que gosto de jornalismo. A função do jornalismo é trazer os factos à sociedade.

Por isso é que é importante termos uma sociedade que queira estar informada.

Lembro-me que há uns anos as campanhas sobre reciclagem eram direcionadas para os mais novos. Foram as crianças que levaram para casa a consciência da importância da reciclagem. Talvez seja importante que as gerações mais novas sejam cada vez mais relembradas da importância de estarem informados, de quererem ver/ler/ouvir notícias. Só assim temos Liberdade de Imprensa.

Por isso, aos recém-licenciados que hoje mais que nunca olham para o futuro sem ter grandes perspetivas, peço que não desanimem. Mantenham o optimismo. Nunca desistam daquilo que realmente querem. Eu sei que parece cliché, ou algo saído dos livros de auto-ajuda, mas se não acreditarmos em nós vai ser difícil alguém fazer esse trabalho por nós. E já agora, vamos meter paixão em tudo o que fazemos. Eu assumo que sou jornalista por paixão, faço aquilo que gosto e gosto de viver nestes tempos, onde há Liberdade de Imprensa.