Dia Internacional da Educação | "A educação e a felicidade" por Paulo Azevedo Dias

Assinala-se, a 24 de janeiro de 2024, o Dia Internacional da Educação. Esta efeméride, que foi proclamada pela Assembleia das Nações Unidas, é este ano dedicada ao combate ao discurso de ódio e recorda-nos as palavras de Aristóteles que “educar a mente sem educar o coração não é educação nenhuma” e as palavras de Kant, que percebe na educação a arte de conseguir o melhor desenvolvimento possível da natureza humana, elevando a consciência para a realidade de si próprio e dos seus semelhantes. São reflexões que demonstram o quanto ainda há a fazer para cumprir os fins últimos de uma educação de qualidade, para todos, promotora do desenvolvimento integral, do bem-estar e da felicidade de cada um.

No Centro de Estudos Filosóficos e Humanísticos exploramos como educação e felicidade se relacionam, a nível micro (pessoal) e macro (comparando países). A conclusão pode surpreender: se as correlações são baixas nos estudos interindivíduos, as diferenças entre os países são notáveis. São dados que sublinham o papel decisivo da educação na felicidade e no desenvolvimento dos países, que nos recordam os mais de 250 milhões de crianças e jovens, em todo o mundo, estimados pela UNESCO, que estão fora da escola e que desafiam governos e países a pensar porque é que a educação contribui para a felicidade dos cidadãos das diferentes nações, mas pouco impacto tem na felicidade de cada um.

Os desafios contemporâneos (sociais e familiares), os cerca de 20% de crianças que manifestam problemas de saúde mental, em particular ansiedade e depressão, os casos de bullying e as suas consequências, o uso excessivo ou inadequado das ferramentas digitais, o sentido de pertença à escola em decrescendo e as consequências da pandemia COVID-19 na aprendizagem, exigem respostas capazes e informadas. Foi esse o mote da criação de um grupo informal de especialistas para apoiar a Direção-Geral da Educação, da Juventude, do Desporto e da Cultura da Comissão da Comissão Europeia no desenvolvimento de recomendações aos estados, escolas e professores, para a promoção do bem-estar. Pretende-se colocar o bem-estar no centro das políticas e das instituições educativas, através tanto de medidas universais como seletivas, mais personalizadas no acompanhamento de crianças e adolescentes com desafios à sua saúde mental e na aprendizagem; através de medidas dirigidas aos professores, de autocuidado, motivação e envolvimento na escola; e ainda através e medidas destinadas às direções de escolas, inspeções e governos.

Além de um direito universal, a educação é um contexto privilegiado de humanização, de encontro, em paz, entre seres humanos, de bem-estar e de felicidade. Para isso, deve ser um espaço aberto a todos, inclusivo, centrado no desenvolvimento de competências cognitivas, mas também na promoção de competências pessoais, sociais e emocionais. A promoção destas competências é essencial, não apenas para o combate ao discurso de ódio, mas especialmente para a realização do potencial de cada pessoa, na sua relação consigo, com os outros, e com o bem-comum.