Isabel Capeloa Gil: "As mulheres são líderes por natureza"

"As mulheres são líderes naturais", refere Isabel Capeloa Gil, Reitora da Universidade Católica, no capítulo "A Women's Leadership and Catholic Universities - A Survey of the International Federation of Catholic Universities", que pretende mapear a atual desigualdade de género em posições de liderança no Ensino Superior e apresentar um plano de ação. Os seus pensamentos estão integrados no livro "More Women's Leadership for A Better World", com prefácio do Papa Francisco, uma iniciativa liderada pela SACRU - Aliança Estratégica das Universidades Católicas de Investigação - da qual a Católica é membro fundador.

"É inquestionável que as mulheres têm as competências, a experiência e o conhecimento para liderar, e uma diferença experiencial que é crucial na promoção da liderança transformacional focada em alcançar o desenvolvimento sustentável da sociedade", salienta a Reitora, acrescentando que "a desigualdade de género continua a ser evidente nos cargos de liderança de topo (Números 2021 da SHE), com apenas 23% de liderança feminina das principais IES, apesar de as mulheres representarem cerca de 47% do total de docentes e investigadores."

Segundo a Reitora da Católica, que é também a primeira mulher presidente da International Federation of Catholic Universities (IFCU), esta disparidade deve-se a três razões principais: ao "preconceito implícito de género e à armadilha da meritocracia; ao estereótipo (genialidade/ masculino vs. singularidade/feminino) e à armadilha dos cuidados emocionais". Isabel Capeloa Gil elabora ainda: como "as mulheres são consideradas mais emocionais do que os homens, mais avessas ao risco e menos ambiciosas, são consideradas menos suscetíveis de terem sucesso em posições de liderança."

Outra ideia "é que na ciência e na academia, onde a criatividade e a inovação rigorosa são altamente creditadas, os homens continuam a ser vistos como mais atraídos pela liderança. Os homens são considerados como estrategas e inovadores, enquanto as mulheres são classificadas como seguidoras", acrescenta.

Todos estes preconceitos perpetuam a desigualdade e são o "resultado de um pensamento por defeito masculino que vê o homem como universal, o produto acabado e a mulher como o nicho, o outro, o diferente."

Contudo, em vez de serem uma desvantagem, estes traços femininos, nomeadamente o "cuidado", estão no centro de um novo modelo de liderança, como explica Isabel Capeloa Gil. " O cuidado - como estratégia de empoderamento feminino - ajuda a quebrar a ligação a um certo tipo de 'armadilha' emocional e sugere uma agenda cívica e política baseada na justiça, reconhecendo o papel das mulheres e a sua contribuição para um mundo mais equitativo e sustentável".

Além disso, com base nos dados recolhidos pelo estudo realizado pela IFCU, a Reitora da Católica sublinha que "as mulheres líderes são claramente vistas como líderes visionárias com uma postura de cuidado, demonstrando que as IES católicas reconhecem o potencial transformacional de uma liderança orientada para o cuidado como modelo de serviço."

O baixo número de "mulheres nos órgãos de decisão revela uma cultura institucional fortemente marcada por uma tradição eclesiástica exclusivamente masculina e à natureza das instituições membros da IFCU, muitas das quais são faculdades e instituições eclesiásticas", afirma Isabel Capeloa Gil.

A mudança é necessária, e de acordo com a Reitora, isso requer ações que "devem envolver três tipos de compromisso: institucional e regulamentar; organizacional e cultural, e não menos importante académico", que a Reitora resume em seis principais iniciativas: "Uma estratégia de transformação institucional centrada em modelos de liderança orientados para o cuidado"; seguida de um "plano de igualdade de género articulando estratégias para a igualdade de oportunidades na carreira e serviço à universidade"; e o desenvolvimento de uma "estrutura de monitorização para orientar a integração da igualdade e inclusão do género."

Isabel Capeloa Gil aponta também a necessidade de um "plano de comunicação para promover a visibilidade das mulheres líderes", juntamente com a "implementação de um plano de sucessão para posições de liderança de topo baseado na igualdade de oportunidades" e, finalmente, o reconhecimento "do serviço e do trabalho das mulheres líderes."

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